VOTAÇÃO DO CONCURSO DE CONTOS- "MEMÓRIAS ASSOMBRADAS"

Apresentamos o conto "MEMÓRIAS ASSOMBRADAS", da autora Thamires F. Bonifácio (jovem).

Leia aqui o conto na íntegra. Para votar, é só curtí-lo Memóras Assombradas no Facebook
(infelizmente curtidas em páginas compartilhadas não poderão ser contabilizadas)




MEMÓRIAS ASSOMBRADAS

   Pouco me lembro dos detalhes daquele dia. Era um dia comum dos anos de 1984, eu ainda morava em Marechal Hermes e trabalhava como diarista num apartamento na Penha. Era de costume seu Aldo, apelido carinhoso para seu Josoaldo, o porteiro e zelador mais querido do Edifício São Marques, irmos juntos para o trabalho.


   Eram cinco horas da manhã e ele me esperava pontualmente na estação de trem, mas ele estava diferente. Cansado, com respiração ofegante e os olhos avermelhados. – O senhor voltou a beber? – Perguntei tentando acabar com a tensão. Ele não me respondeu, virou-se e saiu andando.
Na época eu tinha ouvido dizer que ele voltou a beber, fora expulso de casa e que iria a voltar a morar no edifício, mas na realidade aquele não era o problema. Aldo estava metido numa tal seita que não me recordo o nome e da qual ele participava em reuniões secretas, realizando estudos de livros, traduções e ritos de conjuração ao demônio.
   Fiquei meio receosa quando ele me contou isso, na verdade nem acreditei de primeira, mas não demorou muito para eu perceber que se tratava de um pedido de socorro e quando percebi que coisas estranhas começaram a acontecer. Nos primeiros dias após Aldo ter voltado de férias, ele começou a demonstrar sintomas de palpitação, mas ele dizia que não era nada, depois esse quadro avançou para desmaios e ele continuava a afirmar que não havia nada.
No dia seguinte eu o vi diante do espelho no banheiro de funcionários, estava bastante pálido e com os lábios roxos. Decidi me aproximar, pus a mão em seu ombro e ao olhar para o espelho tive a sensação de ter tido contato com o demônio. Os olhos do homem ficaram completamente negros, seu rosto enrijeceu e sua boca ressecou. Fiquei extasiada, olhando hipnoticamente para a feição tão monstruosa, quando sonoramente como uma música a figura soltou uma voz rouca as seguintes palavras “- Eu sou a morte, vim buscá-lo! Não acreditas no demônio? Pois ele esta agora diante de ti, maldita!”
    Com as pernas bambas andei devagar sem perder de vista tal figura que continuava parada de forma estática com as mãos sobre a pia. Ao encostar as mãos na maçaneta, abri a
porta com força e corri pelo corredor sem olhar para trás. Subi as escadas e só parei quando estava no décimo terceiro andar.
   O lugar estava escuro e no momento eu só ouvia os sons da minha respiração, o coração continuava acelerado e a boca não tardou a ficar seca, a sede naquele momento era inevitável. Sentei-me para acalmar, abaixei a cabeça e passei os dedos pela raiz do cabelo, massageando o couro pouco a pouco.
Repentinamente, ouvi o estalo de passos na escada que tornavam-se cada vez mais fortes. Levantei-me assustada e num olhar rápido do alto da escada caracol nada vi, a minha visão estava turva e perturbada pela ilusão de óptica causada pelo formato confuso da escadaria.
   Subi mais alguns degraus, ainda entontecida. Então veio o susto maldito! Lá estava ele, parado ferindo-me com seus olhos negros cor de piche. Com poucas forças que me restavam o peguei pelos braços e de forma ágil consegui jogá-lo escada a baixo, ele rolou a escadaria e só parou na entrada do edifício. Encontrava-se descordado. A Polícia e a Emergência foram chamadas, não tive que prestar esclarecimentos e o caso foi interpretado como legítima defesa.
   Na volta pra casa, deparei-me com um anúncio pintado à mão em um muro, nele estava escrito “Mãe Dinah: joga-se tarô, búzios e cartas. Resolvo problemas de amores, vícios e perturbações”. Era o que eu precisava! Imediatamente liguei e marquei a consulta.
   A consulta demorou vinte e cinco minutos e foi suficiente para resolver meu problema. A cartomante informou-me que aquilo que nós tratávamos não era um caso de amarração, feitiçaria ou algo do gênero. Era a mais alta magia, aquilo ao lado dele era a morte de carne e osso, que veio pessoalmente amaldiçoar, destruir e ceifar a vida de meu amigo e só havia uma solução para acabar com aquilo.
   Decidi lutar, era a vida de um grande amigo que estava em jogo. Já era noite, fui até o cemitério como a cartomante orientou, demorei a achar o jazigo do qual ela me falou, o que estava marcado com sangue. Ela não falhou, de fato alguém havia feito tal barbaridade. Ao me aproximar encontrei a foto de Aldo sob uma caveira com uma cruz fincada no centro e de cabeça para baixo, joguei gasolina sobre os objetos e queimei rezando o Pai Nosso.
   Voltei à casa, tomei aquele banho de sal grosso e fui relaxar feliz por ter ajudado meu amigo. Para minha surpresa, na manhã seguinte após o ocorrido lá estava Aldo pontualmente me aguardando na estação de trem. Após ter me deixado falando sozinha, quero dizer aquela coisa que estava com ele, esbravejou e dando saltos animalescos começou a dar socos no ar até que finalmente o arremessou.    Agora só me recordo do trilho rangendo, das pessoas gritando e do sorriso largo do homem de terno preto com feições nítidas de prazer na morte olhando para mim.

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